Laura Sánchez Ley.
Tijuana (México) - Centenas de imigrantes deportados pelos Estados Unidos foram forçados a buscar refúgio debaixo da terra em Tijuana devido ao abuso da policia, do assédio de traficantes e pela impossibilidade de voltar para suas cidades natais.
Os 'pocitos' - túneis de dois a 15 metros de comprimento e um metro de profundidade escavados na terra fofa que as chuvas trouxeram ao longo dos anos para perto das margens do rio Tijuana - são as casas improvisadas por estes cidadãos que, depois de serem expulsos dos Estados Unidos, optaram por se esconder.
Calcula-se que existam 30 túneis onde vivem cerca de 200 pessoas. Dentro dos 'pocitos', a única certeza que eles têm é que qualquer dia poderá acontecer uma tragédia.
Para entrar nos refúgios é necessário pular para dentro dos buracos; não há escadas, e as entradas estão cobertas de lixo e tábuas de madeira como forma de camuflagem.
Nos últimos anos, Tijuana se transformou no lugar do México onde é realizado o maior número de deportações por parte dos Estados Unidos: 100 mil por ano.
O leito do rio Tijuana, conhecido como 'El Bordo', foi transformado em refúgio para 3 mil imigrantes mexicanos centro-americanos que lá ficaram retidos após terem sido expulsos dos EUA.
'El Bordo' - um canal de águas residuais que se estende por 4.500 metros - é uma fronteira entre o México e os Estados Unidos, feita apenas com uma cerca de metal, e tinha até pouco tempo atrás centenas de casas nas suas margens.
Há pouco mais de um ano começaram as operações para tirar os imigrantes de lá. O método escolhido pela polícia foi queimar seus 'ñongos', construções precárias feitas de lixo, plástico e papelão.
Delfino López, um imigrante mexicano de 33 anos, lembrou uma dessas operações: 'Disseram-nos 'Já acabou o tempo de vocês, agora vão ver o que é bom!' E queimaram e nos levaram tudo'.
'Eles tentaram queimá-los vivos, encharcando-os de gasolina e ateando fogo, alguns sofreram queimaduras', denunciou Micaela Saucedo, ativista e diretora do refúgio para imigrantes 'Elvira Arellano'.
Ismael Martínez, original de Oaxaca, um dos estados mais pobres do México, viveu durante quase 20 anos na Califórnia. Foi deportado e não conseguiu juntar dinheiro suficiente para voltar à sua terra natal.
Ismael lembra que chegou a Tijuana apenas com sua mochila. Quando as agressões dos policiais começaram, ele teve a ideia de se enterrar 'como uma toupeira' para se proteger de ser queimado ou detido.
Para reduzir o risco de desabamento de seu túnel, ele forrou o interior com madeiras arrastadas pelo rio. Mas seus reforços improvisados não dão segurança aos que lá vivem; pelo contrário, dormem com medo de que as máquinas do governo municipal os matem.
A ativista Saucedo lembrou que, no final de 2012, quando a prefeitura fazia obras para limpar a região, uma máquina escavadeira tirou o corpo de um imigrante que estava dormindo em um 'pocito'.
Os deportados não só têm que se esconder debaixo da terra para escapar das autoridades e também dos traficantes que vendem heroína e a droga chamada 'cristal' sob ordens do cartel dos Arellano Félix, uma das organizações criminosas que operam na fronteira.
'Roubam nossos pertences. Querem que compremos drogas à força', conta um imigrante que pediu anonimato.
Onésimo Gómez contou que na primeira vez que entrou em um 'pocito', teve a impressão de ter sido sepultado vivo. Ele disse que sentiu frio e a respiração pesada. 'Tinha que abrir muito a boca' para inalar o máximo possível de ar, afirmou.
'Me senti muito mal, mas tive que fazer isso para evitar a polícia e para poder voltar a ver meus filhos e esposa, que me esperam nos Estados Unidos. Em dias de conflitos, fecho os olhos e penso neles', acrescentou. EFE